segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cap 11

Abril
Estou entrando esse mês diferente, mais confiante...
Parece que a dor está perdendo a intensidade em seu lugar vem chegando uma sensação de saudade mais calma
As aulas de dança, as novas amizades com outras viúvas, as leituras sobre a morte e a viuvez vem me ajudado.
Me sinto amadurecendo me tornando uma nova pessoa ...Já percebo uma luz no fim do túnel e uma vontade de voltar para o mercado de trabalho.
Estou bem mais forte.
Viajei, fiz uma plástica e brinco dizendo que virei uma Barbie.
A recuperação tem sido ótima contei com a amizade e o carinho de muita gente

Hoje eu estou assim repleta de coisas pra escrever, talvez essa seja uma grande terapia.
Escrever pra que????? Sabe – se lá !!!
Hoje a saudade está imensa, terminei de ler o livro “Para Francisco “ da Cristiana Guerra. Já somos amigas de infância, sem nos conhecermos, mas entendo pois vivi a mesma dor e isso de certa forma criou um laço de amizade.
Lembro de como conheci meu marido sempre atleta...
Arrasava na praia jogando frescobol lá na praia do Náutico em Fortaleza naquele julho de 1974.
O corpo atlético disfarçava a pequena estatura. Seu bronzeado era perfeito.
Chegava trazendo uma raquete de frescobol e mal pisava na areia da praia, já aparecia dezenas de parceiros e assim, ele ficava a manhã quase completa a jogar e dar show pegando as bolas mais impossíveis e jogando contra dois adversários ao mesmo tempo.
Não sei se podemos chamar os jogadores de frescobol de adversários pois, na verdade, ambos tem o mesmo objetivo não deixar a bola cair. O contrário do tênis que os jogadores torcem para que o outro jogador não consiga pegar a bola.
Inicio e fim do Betinho
Início no frescoble e final no tênis, o que restou de um amor que começou na alegria da praia terminava na quadra de saibro, o que havia sido uma grande paixão.
Quando cheguei ao clube só consegui ver os pés ainda calçados e quietos...
Lembrei do Airton Senna no dia da sua morte.
Desde que eu havia sido avisada por um amigo, enquanto o esperava em casa, que ele havia se sentido mal uma coisa apertou meu coração, uma coisa me dizia que me preparasse...
Chamei minha cunhada que há seis anos havia passado por um momento igual, que me acompanhasse , tinha medo de ir só.
No meio do caminho tive a certeza quando perguntei se ele havia melhorado e meu amigo me disse que eu tinha que ser forte.
Aquela frase é meio clichê quando vamos dar uma notícia de morte...
Por que precisamos ser forte????
Precisamos é não ter medo de vermos o quanto ficamos fragilizados com uma situação dessa tão devastadora.
Quando cheguei para o mais terrível e derradeiro encontro com o que tinha sido o meu grande amor, as pessoas me olhavam como se eu fosse um espectro de morte, me pediram que eu não me aproximasse para que os médicos pudessem trabalhar para salva-lo...
Olhei ele de longe e extranhamente não o vi mais, era um corpo caído no chão mas não era mais o meu amor.
Balbuciei pra mim mesma
– Bem volta pra mim por favor, volta
O corpo não mexia e tive certeza que ali não havia mais nada.
Se fez um silêncio enorme em minha volta, eu via as pessoas falando mas eu não conseguia ouvir, era como se eu tivesse num sonho.
As vezes eu falava mas não lembro o que, eu estava presa numa bolha de silêncio e confusão.
De repente eu já estava em casa e procurava uma roupa para ele vestir me vi preocupada em combinar terno camisa e gravata, como o preparava para qualquer festa .
Ele não tinha a menor paciência de escolher roupa para nada.
Eu guardava suas roupas no closet separadas por cores, que representavam os anjos da semana ele achava o máximo, pois já ia no automático, assim ele me dizia;
No almoço daquela terça feira ele estava tão sério, mas ele estava assim desde a sexta feira anterior e sempre que eu perguntava a resposta era a mesma
-É impressão sua , eu não tenho nada
Naquela terça feira eu deixei de comparecer ao almoço do Rotary porque algo me dizia que deveria almoçar com ele.
Às três horas da tarde ele me ligou para me dar uma notícia sobre o sucesso de uma prova de nossa filha lembro do final da ligação palavra por palavra..
- E ai agora vc está mais calminha?
- É agora estou, obrigada bem...Te amo pra sempre viu
-Eu também, beijo - Foram suas últimas três palavras para mim.
Posteriormente quando eu ainda na fase da raiva me revoltava, porque não tinha podido me despedir dele, me lembrei dessa ligação.
Quando eu dizia para ele da infinitude do meu amor e ele me dava a mesma certeza...
Quantas pessoas tinham tido essa chance
As lembranças as vezes podem doer mas as vezes também curam as feridas
Lembro da nossa última viagem – um cruzeiro pela Patagônia a bordo do Star Princess

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